Curando as emoções feridas

Cap. 09 – Depressão

Podemos expressá-la?

“A depressão é sofrimento humano que todos sentimos ocasionalmente. Devido às pesquisas médicas, podemos hoje diagnosticar certos estados depressivos como tendo origem física. Uma vez que se descubra que a depressão possui causa física, ela pode ser tratada com medicamentos específicos (anti-depressivos) que são geralmente bastante eficazes.

É triste o fato daqueles que freqüentemente se recusam a tomar esses medicamentos alegando, erroneamente, que não querem ficar dependentes de remédios e que desejam vencer sozinhos a depressão. Esta é tentativa tola de desejar que a diabete ou a pressão alta desapareçam sem os remédios necessários.

A depressão comum é normal (perda pessoal, desapontamento, fracasso, frustrações, medo etc), e todos precisamos de algum tempo para superar a experiência. A depressão torna-se problema somente quando não nos damos ao trabalho de lidar com ela; nesse caso persiste e começa a levar a melhor.

A experiência de perda, que é uma das causas da depressão, gera sensação de desesperança, que por sua vez nos faz sentir desamparados. Freqüentemente o deprimido torna-se imobilizado; sua habilidade de agir normalmente é prejudicada. O nível de motivação torna-se lento, e a inexpressividade tolda a perspectiva de vida da pessoa. A depressão “comum” pode piorar e tornar-se crônica se não for resolvida.

Uma das causas mais comuns e fundamentais da depressão é a repressão, a qual ocorre quando enterramos sentimentos dolorosos e negativos – recordações, temores etc. – dentro de nós mesmos, cujo resultado é refrearmos todos os tipos de pensamentos e sentimentos confusos, distorcidos e penosos. As pessoas tentam esquecer ou pôr de lado sentimentos desagradáveis ou indesejáveis, mas eles não serão esquecidos enquanto não os enfrentarmos.

Quando reprimidos nossos sentimentos negativos sentimo-nos cansados, sofremos perda de incentivo e ficamos apáticos em virtude da quantidade de energia consumida por esses conflitos internos e pelo esforço necessário para contê-los dentro de nós. Os que se acham nesse estado sentem-se confusos e inseguros com relação ao que realmente pensam e sentem. Devemos esperar até que parte dessa agitação interior tenha sido resolvida, e nossos sentimentos e pensamentos esclarecidos.

Como fazê-lo? Através da expressão. Se a repressão pode causar a depressão, a expressão pode começar a aliviá-la, forçando todos os sentimentos emaranhados e deformados que precisam ver a luz do dia a virem à superfície, a serem vistos pelo que realmente são. Fazemos isso expressando nossos sentimentos para alguém próximo a nós, em que confiamos suficientemente para revelá-los, alguém que talvez não concorde conosco ou mesmo nem sempre nos compreenda, mas que esteja disposto a escutar cuidadosamente e a nos ajudar a esclarecer as coisas. As pessoas deprimidas precisam falar, precisam de um amigo que as escute e sofra junto com elas. Geralmente o deprimido prefere se fechar, o que faz com que regrida.

Se você tiver um amigo que queira agir assim, não permita que isso aconteça! Encoraje-os e até pressione-os a transmitirem o que sentem, a trazer as coisas das trevas para a luz, a pôr “as cartas na mesa”, para que nova e realista percepção de todo o material reprimido seja possível. O Espírito de Deus que ilumina trabalha nesse processo e a cura pode ter início.

Podemos distinguir melhor as coisas quando verbalizamos o que sentimos, quando ouvimos nossa própria voz. A oração pode ser outra fonte de ajuda. Nas trevas, quando nos sentimos vazios e murchos, compartilhamos nossa agonia com Deus na prece. Deixamos que Deus toque, absorva e cure nosso espírito enredado e desorientado.

O que podemos encontrar acumulado debaixo da depressão? Muitos fatores são reprimidos, mas alguns dos mais importantes são: a ansiedade, a raiva e o pensamento negativo. A ansiedade é formada pelos temores irracionais a respeito da nossa vida e do nosso futuro que nos corroem persistentemente. A raiva reprimida, que é de longe uma das mais devastadoras causas da depressão. Os indivíduos precisam permitir-se vivenciar sua raiva e expressá-la apropriadamente, quando necessário, sem sentir culpa.

Quando a raiva é expressa, compartilhada com outra pessoa ou resolvida de alguma outra maneira, o individuo está livre para mobilizar energias para uma vida positiva e construtiva, em vez de ficar nadando numa repressão passiva e destrutiva.

O terceiro fator que contribui para a depressão é o pensamento negativo, que controla sutil ou obviamente a auto-estima e a auto-imagem da pessoa. Quando os indivíduos estão desanimados, tendem a ficar mal consigo mesmos. Precisamos trazer à tona todos esses pensamentos negativos sobre nós mesmo, para que possamos derrotar a depressão. Temos que nos convencer de que podemos nos recuperar e ter esperança no futuro, de que, embora a ação tenha sido má, quem a cometeu é bom.

O pensamento negativo também é alimentado pelo perfeccionismo, que é sempre irrealista e destrutivo. As expectativas irrealistas com relação a nós mesmo e aos outros nos preparam continuamente para o desapontamento e para ma depressão maior. Os desapontamentos nos deixam vazios, frustrados, desgostosos, desiludidos e provavelmente irritados, de modo que os meses de janeiro e fevereiro, que já são frios e tristes em muitas partes do continente, parecem ainda mais sombrios do que de costume.

Podemos enfrentar e analisar melhor a depressão através do pensamento realista, aceitando-nos e sendo felizes com quem somos. É aqui que a crença no amor incondicional de Deus, por nós, na história da redenção e no eterno perdão de Deus pode nos ajudar emocionalmente. Uma aplicação da fé pode fazer maravilhas pelos deprimidos.

Finalmente, é preciso enfatizar a importância de não perder a esperança. Como a depressão está tão ligada a uma sensação de perda, também é muito fácil perder a esperança: em nós mesmo, nos outros, em Deus. Se somos cristãos, temos esperança, que nos sustenta e nos conduz à frente até na escuridão, porque Deus está conosco e trabalha conosco.

Não há razão para desespero. A depressão é doença que pode ser tratada. Pode precisar ser medicada, mas também precisa ser expressada, e esta expressão, aliada à esperança em Deus, levará a cura.

A Bíblia é a história de Deus constantemente afastando seu povo de alguma coisa. E desse modo ele nos afasta da depressão. Mas Deus não apenas nos afasta de algo; também nos leva a direção de outra coisa, algo melhor. A depressão pode ser o momento de transformação em novo estágio de crescimento emocional e espiritual.

Em nossos acessos de depressão, precisamos buscar o significado mais profundo do que nos está acontecendo. Viktor Frankl escreve que, se pudermos descobrir por que algo nos acontece, poderemos suportar o como. Para nós Cristo confere significado à nossa existência. Mas cada um precisa descobrir esse significado. Cada vez que vemos diante de um estado de depressão somos chamados para algo maior.

Quando descobrimos o significado, sustentamos nossa esperança; vivenciamos a cura e mobilizamos nossa vida para um mundo que talvez nunca tenhamos percebido que existisse ou que talvez não quiséssemos que existisse. Os discípulos de Cristo não compreenderam que a depressão de sexta-feira santa conduziria à alegria da ressurreição de Domingo de Páscoa”.

Esse texto foi retirado do livro “Curando as emoções feridas” de Martin Padovani.

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