Curando as emoções feridas

Cap. 08 – Culpa

Estímulo ou tormento?

“A culpa é um fato da vida, e sentir-se culpado é experiência normal para quase todos nós. Quando pecamos devemos experimentar a culpa, senão emocionalmente pelo menos mentalmente. A Escritura diz que o homem justo fraqueja sete vezes por dia. Aqueles que experimentam as “culpas comuns” da vida protegem a saúde mental.

Os sentimentos de culpa nos ajudam a reconhecer que cometemos injustiça – e isso é bom. Compreender um pecado é dimensão do equilíbrio mental. Esses sentimentos também nos devem ajudar a aprender com nossas deficiências. Algumas vezes paramos para perceber quanto nossa vida é formada por deficiências, erros e pecados?

Cada fracasso representa um momento de aprendermos, de obtermos valiosos insights de nós mesmos e de assumirmos mais responsabilidade pela nossa vida. Além disso, para os cristãos, o fracasso é uma oportunidade de intensificar o relacionamento com Deus, experimentando e aumentando a fé no seu amor constante e redentor. O Espírito de Deus atua sempre sobre nossa fragilidade humana.

Mas, com tanta freqüência, ficamos desapontados com nossas falhas morais que nossa culpa se recusa a desaparecer, e nos condenamos. Nessas situações, a culpa trabalha contra nós, em vez de a nosso favor; ela se torna mais tormento do que estímulo. Tornamo-nos menos humanos e portanto menos cristãos; não experimentamos a redenção e sim a rejeição. Ao contrário do psicopata que é preso pelos outros, somos nós que nos aprisionamos – atrás das grades da culpa.

Agarrar-se a uma culpa não resolvida chama-se “culpa depois do fato”. A culpa que nos controla “depois do fato” do perdão torna-se doentia ou neurótica, impedindo que atuemos normalmente. Agarrar-se à culpa é uma espécie de autopunição. Observamos algumas vezes essa autopunição após rompimento conjugal, a morte de um ente querido, a perda de emprego, ou desapontamento repentino.

Às vezes, as pessoas magoam-se consciente ou inconscientemente como maneira de punir-se.  Há até quem insiste em ser desagradável com os outros para provar que ele é mau, afastando-os assim dele, o que demonstra que é realmente mau. O fundamento lógico desse comportamento é o seguinte: “Agi errado, não presto e mereço ser punida”.

É correto nos sentirmos mal ou desapontados com relação a alguns acontecimentos, mas nunca nos devemos sentir culpados a respeito deles ou deixar que essa culpa no domine. Nossos sentimentos não são pecados; apenas nosso comportamento pode ser pecaminoso.

Alguém também pode, às vezes, nos fazer sentir culpados por uma ação pela qual não somos responsáveis. Precisamos assumir a responsabilidade de nos sentirmos culpados, para que possamos depois lidar mais sincera e eficazmente com o sentimento.

Se permitirmos que outras pessoas nos façam sentir culpados quando não nos deveríamos sentir assim, elas poderão nos controlar e nos manipular, consciente ou inconscientemente. Fazer com que o outro se sinta injustamente culpado, sem que haja causa para isso, é basicamente afronta e tentativa de destruir a autoconfiança de outro.

A mágoa que surge quando enfrentamos a verdade não pode ser evitada nos relacionamentos do dia-a-dia; essa mágoa faz parte da vida normal. Nossa fraqueza pode ser dolorosa, mas desde que seja apropriada e desprovida de maldade, não precisamos nos sentir culpados com relação a ela.

Ser sincero é parte integrante do desenvolvimento de relacionamento confiável. Nós verdadeiramente nos magoamos uns aos outros com tanta freqüência porque não somos sinceros uns com os outros – e por isso nos devemos sentir culpados. Grande quantidade de casamentos e famílias estão perecendo por causa do silêncio, não da violência.

Devemos enfrentar e resolver os autênticos sentimentos de culpa procurando o perdão, corrigindo-nos ou pedindo desculpas.

Quanto mais ouço os problemas das pessoas, mais me convenço de que a ignorância e a má interpretação na esfera religiosa dão origem a muitos problemas desnecessários. Devemos considerar a ajuda profissional, caso a culpa irracional atrapalhe nossa atuação cotidiana.

Nos evangelhos, Jesus sempre ajuda as pessoas a reconhecerem sua culpa, levando-as a admitirem seus pecados. Quando agarramos à culpa, comprometemos o processo de redenção. Precisamos conviver com elas e repará-las.

Quando vivemos de acordo com os evangelhos, compreendemos gradualmente que Jesus usa a culpa como estímulo ao crescimento e à mudança, mas não como forma de tormento. O tormento é de responsabilidade nossa”.

Esse texto foi retirado do livro “Curando as emoções feridas” de Martin Padovani.

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