Cap. 07 – Perdoar a si mesmo

Isso está passando despercebido?

“A palavra “cristão” é sinônimo de perdão. Cristo, além de nos revelar o perdão de Deus e pedir que perdoemos uns aos outros, também sugere que perdoemos a nós mesmos. Entretanto, se nos consideramos cristãos, temos que ser capazes de nos perdoar. Se não o fazemos, não experimentamos a plenitude da redenção, não nos reconciliamos com nós mesmos, nem tampouco alcançamos a maturidade cristã.

Há quem fique às vezes aturdido quando lhe perguntam, depois de admitir ter falhado ou pecado: “Você acredita que Deus o perdoou; mas você perdoou a si mesmo?” Muitos cristãos mal pensam nisso.

Acreditamos que Deus nos perdoou; agora ele nos convida a nos perdoarmos. Sem dúvida, perdoar a si mesmo é difícil e desgastante para alguns. Mas, a não ser que levemos Deus a sério e usemos seu perdão para realmente nos perdoarmos, jamais experimentaremos genuinamente o perdão de Deus, a plenitude da redenção ou a reconciliação conosco mesmos. Vivemos uma contradição ao aceitar o perdão de Deus sem aceitar o nosso.

Com o passar dos anos, sempre que questionei as pessoas sobre o perdão a si mesmas, deparei com uma clara relutância da parte delas em concretizá-lo. Por quê? Porque muitos parecem ter a necessidade de punir-se depois de pecar, e que melhor maneira existe de fazê-lo do que recusar o perdão? Em vez de nos aceitarmos exatamente como somos, com todas as nossas limitações – como Deus o faz conosco – nosso orgulho nos leva a nos julgarmos do modo como éramos ou deveríamos ser.

Através da autocomiseração, da autocondenação ou da autopunição, escolhemos uma forma de comportamento egocêntrico e acabamos bloqueando o fluxo final do perdão e o amor curativo de Deus. Perdemos as esperanças. Recusamo-nos a nos erguer, a tomar nossa cruz de fragilidade humana e seguir Jesus. Por outro lado, ao nos perdoarmos podemos fazer com que nossos pecados e deficiências trabalhem a nosso favor.

Se persistirmos em não perdoar a nós mesmos, construímos reservas de culpa estagnada, quer ou não reconheçamos esse fato. Tornamo-nos espiritual e emocionalmente insensíveis; até deprimidos, e controlados por esses sentimentos inúteis.

É difícil perdoar a nós mesmos; temos que nos esforçar muito, mas podemos fazê-lo. Não se trata apenas do supremo desafio da redenção e da reconciliação cristã, mas também da chave da saúde e da cura mental, emocional e espiritual.

Quando nos perdoamos, permitimos que o perdão de Deus penetre abundantemente em nossa vida. Começamos a experimentar agora a ressurreição. A origem de muitos conflitos emocionais é a recusa das pessoas em perdoar a si mesmas. Os indivíduos que sofrem desses conflitos nunca ficarão emocional ou espiritualmente curados enquanto não perdoarem a si mesmos, e tampouco serão capazes de perdoar genuinamente seus irmãos.

Todos os profissionais da área da saúde mental deveriam ser sensíveis ao fato de que muitos de seus clientes nunca ficarão curados, nem encontrarão paz interior ou farão algum progresso na terapia, enquanto não se perdoarem. Quando isso ocorre, a cura e o progresso tornam-se possíveis. É claro: para que isso aconteça, a dimensão da fé deve ser ativada e desafiada no indivíduo. É uma pena que essa dimensão seja freqüentemente omitida e substituída por alguma técnica clínica.

Perdoar a nós mesmo não significa autocomiseração e sim responsabilidade, arrependimento e mudança. Não significa encobrir ou justificar nossos pecados, e sim enfrentar a dura realidade das nossas ações e tomar a nossa cruz e seguir Jesus.

Não podemos viver uma vida plena e amorosa, a não ser que possuamos a fé madura que permite que nos perdoemos, não importa o que “tenha dado errado” na nossa vida. Podemos então verdadeiramente nos entregar, permitir a entrada de Deus e continuar a viver e a amar”.

Esse texto foi retirado do livro “Curando as emoções feridas” de Martin Padovani.

Que a paz de Jesus esteja com todos vocês.